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Pesquisa mostra faces da desigualdade no consumo alimentar no Brasil

por Lorrainy Cristhiny
Publicado: 13/02/2023 - 16:25
Última modificação: 13/02/2023 - 16:38

As desigualdades em saúde são injustiças evitáveis entre indivíduos de estratos sociais distintos que explicam o maior adoecimento de grupos populacionais mais vulneráveis. No consumo alimentar, alguns estudos indicam que nos países de baixa e média renda, como o Brasil, tanto o acesso a alimentos nutritivos de alta qualidade nutricional quanto aos alimentos ricos em energia e baixo valor nutricional é mais frequente entre pessoas com maior nível socioeconômico. No entanto, pouco se sabe sobre o papel simultâneo do sexo e da raça/cor de pele na determinação dessas desigualdades socioeconômicas.

Dessa forma, o objetivo do estudo desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (Famed/UFU) durante a pesquisa de doutorado da egressa Barbara Virginia Caixeta Crepaldi, sob orientação da professora Catarina Machado Azeredo, foi identificar e quantificar as diferenças no consumo diário de alimentos saudáveis (in natura/minimamente processados) e não saudáveis (ultraprocessados) entre brasileiros com diferentes níveis de escolaridade, em 2019. O trabalho contou com a parceria de outras universidades do país.

Além da escolaridade, os pesquisadores queriam saber se a desigualdade seria potencializada pelo sexo e pela raça/cor da pele (comparando homens brancos; homens pretos/pardos; mulheres brancas; mulheres pretas/pardas). Foram utilizados dados de 52.443 brasileiros com idade ≥18 anos, entrevistados em 2019 pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2019).

Os resultados foram publicados no prestigiado periódico Frontiers in Nutrition, em dezembro de 2022, no artigo intitulado “Educational inequality in consumption of in natura or minimally processed foods and ultra-processed foods: The intersection between sex and race/skin color in Brazil”.

Cerca de 30% dos brasileiros relataram alto consumo diário de alimentos in natura, e entre os menos escolarizados esse percentual foi de apenas 20,4%. Identificamos que se todos os brasileiros tivessem o consumo de alimentos in natura na frequência daqueles com maior escolaridade (37%), aumentaríamos em cerca de 7% consumo na população em geral.

Por outro lado, como o consumo de alimentos ultraprocessados foi maior entre aqueles com escolaridades mais elevadas (17%), ou seja, se todos os brasileiros apresentassem o alto consumo diário daqueles com maior escolaridade, teríamos o aumento de 1% nesse consumo.

Observamos ainda, que cerca de 42% das mulheres brancas com maior escolaridade apresentaram alto consumo diário de alimentos in natura/minimamente processados, enquanto apenas 35% das mulheres pretas/pardas com o mesmo nível de escolaridade apresentaram esse consumo.

Além disso, homens pretos/pardos com escolaridade intermediária apresentaram menor consumo de alimentos in natura/minimamente processados comparados aos homens brancos com menor escolaridade, mostrando o impacto do racismo no consumo alimentar.

Concluímos que as desigualdades educacionais no consumo alimentar são complexas e paradoxais, e influenciaram mais o consumo de alimentos in natura/minimamente processados do que os alimentos ultraprocessados. Além disso, para os alimentos ultraprocessados, as desigualdades foram maiores entre homens e mulheres de cor de pele preta/parda do que entre homens brancos.

Nossos achados têm implicações importantes, pois mostram faces da desigualdade no consumo alimentar que podem orientar políticas públicas de saúde e segurança alimentar e nutricional que garantam o acesso e o consumo adequado de alimentos saudáveis e a redução do consumo de alimentos não saudáveis de forma equitativa. 

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